Filosofia: A tecnologia que fere a mente

Filosofia: A tecnologia que fere a mente

Você está em um ônibus, duas pessoas estão conversando. Uma conta a o que gosta de comer, enquanto a outra espera pacientemente. Quando a segunda pessoa percebe que houve uma pausa, ela interrompe para falar sobre o que ela própria gosta de comer, obrigando a outra a aguardar. 

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Nenhuma das duas está interessada em conversar, estão apenas fazendo monólogos intercalados nos quais podem apresentar as próprias preferências, pontos de vista, julgamentos e experiências uma vagamente consciente do desinteresse da oura, já que o interlocutor raramente faz perguntas que demonstrem seu interesse no que está sendo dito. 

Você mesmo que está ouvindo tudo isso está se sentindo irritado, por que só está sendo obrigado a ouvir essa conversa desinteressante por que deixou seus fones de ouvido em casa acidentalmente, e não pode se isolar nos seus próprios pensamentos.

Sabe o que significa essa situação? A habilidade de se ouvir, de conversar está se perdendo. Ela é hoje tão rara quanto a habilidade de tocar um instrumento, pintar, ou escrever poesia.

Hoje, todos os espaços do nosso tempo são aproveitáveis. Em um minuto livre que seja, há um vídeo curto que possa ser visto por inteiro, capaz de nos fazer rir, o que faz com que não exercitemos a habilidade do nosso cérebro de desenvolver uma informação. Mesmo se não tivéssemos o hábito de conversar, mas ficássemos fechados nos nossos próprios pensamentos, seria o suficiente para que nossos pensamentos mastigasse um assunto até que fosse digerido, e isso exercitaria nosso pensamento, mas quando não estamos resolvendo algum problema que requeira pensar (uma situação que hoje precisamos remediar o mais rapidamente possível para voltar para a situação normal), estamos fechados em uma forma de entretenimento que pouco requer qualquer reflexão. Até mesmo frases filosóficas que recebemos pelas mídias sociais precisam ser extremamente simples, para que possamos absorver sem esforço.

E isso reduz a nossa habilidade de absorver informações. Nós não podemos conversar mais, por que não somos capazes de trocar conhecimento.

Houve um tempo em que uma conversa tinha o objetivo de trocar conhecimentos. Você conversava com uma pessoa, questionava seu ponto de vista, perguntava sua opinião, era capaz de concordar ou discordar de forma saldável, sem conflitos e isso fazia nosso campo de visão se alargar com o conhecimento de vários pontos de vista.

Hoje estamos tão fechados dentro de nós mesmos, que o mero indício de que alguém está discordando de nós, ou de que a pergunta dele insinua que estamos errados em algo, nos faz entrar na defensiva, e repetir argumentos manjados para nos defender, e na grande maioria das vezes, nos faz até responder de forma agressiva.

Nós perdemos a habilidade de absorver informações, não lemos, não assistimos a vídeos informativos, nem nada do tipo. Todo o conhecimento que temos vem das mídias sociais, trocadas entre pessoas que não tem fonte ou embasamento para qualquer informação.

Mas é claro que pra nós fica evidenciado que muitos de nós não aprendemos com facilidade, e que temos pouco conhecimento, e como fazemos para compensar isso, mostrar que temos também um pouco de sabedoria? Nós julgamos.

A todo momento nós repetimos julgamentos das pessoas que vivem a nossa volta, sobre o que não compreendemos, criticamos pessoas que tem pensamentos opostos aos nossos, mesmo quando a pessoa tem estudos e embasamento científico para o que diz, por que nós desvalorizamos o conhecimento, na nossa sociedade. Tentamos resolver os vários problemas na nossa sociedade por meio de moralidade e julgamento, definindo o que deve ser dito ou feito, sem se compreender como ficou assim, ou como resolver.

Nós precisamos perder o hábito de julgar sem entender, de julgar só para satisfação pessoal. A melhor forma de voltarmos a riqueza de espírito que um dia tivemos é nos distanciarmos dessas ofertas de satisfação rápida que recebemos do mundo, e buscarmos dentro de nós aquela sensação de insatisfação pessoal que nos levava a investir tempo em nós mesmos.

Assim voltaremos a nos construir, a nos cuidar, a nos amar mais, a nos respeitar e a dar valor a nós mesmos.

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