A Filosofia da Ciência

A Filosofia da Ciência

Aproximando questões de metafísica, epistemologia e ontologia, quando estas tratam da relação entre ciência e verdade, a filosofia da ciência é o ramo da filosofia que trata das questões relativas a confiabilidade, previsibilidade e métodos da ciência.

Questões acerca da ciência sempre estiveram presentes em filosofia, por muito tempo não houve distinção entre questões da filosofia e da ciência. No entanto, uma área da filosofia dedicada exclusivamente a compreensão das ciências só veio a surgir na metade do século XX, particularmente sob influência do positivismo lógico, que buscava desenvolver critérios para garantir o significado de afirmações filosóficas, mas também pela obra de Thomas Kuhn, A Estrutura das Revoluções Científicas, de 1962, na qual o autor procurou apresentar uma nova visão de como se dá o progresso científico.

Atualmente, existem ramos dentro da filosofia da ciência para todas as ciências existentes, desde a filosofia da física, que irá analisar, entre outros tópicos, questões relativas a natureza do espaço-tempo, até a filosofia da psicologia e ciência cognitiva. A filosofia da ciência, como área ampla, neste contexto, analisará ainda questões relativas a possibilidade de se reduzir uma ciência a outra (reducionismo), a validade do raciocínio científico e mesmo questões próximas a ética, como a morte na filosofia da medicina.

Os principais tópicos de investigação para a filosofia da ciência são três:
  1. O que se qualifica como ciência?
  2. Qual o propósito da ciência?
  3. A confiabilidade das teorias científicas.
O primeiro tópico, que trata do que se qualifica como ciência, é conhecido como "problema da demarcação". De acordo com Karl Popper, a qualidade fundamental da ciência é a falseabilidade. Sabemos que estamos diante de uma pseudo-ciência quando esta não comporta mecanismos para mostrar que suas teses podem ser falsas. Ainda segundo Popper, esta seria a questão primordial da filosofia da ciência. Embora muitos filósofos concordem com Popper, um consenso ainda não foi estabelecido, chegando alguns filósofos a afirmar que devemos usar o padrão Potter Stewart, segundo o qual "eu sei o que é quando vejo".

Quanto ao propósito da ciência, existem duas correntes mais proeminentes, realistas e instrumentalistas. Realistas irão defender que o mundo descrito pelas ciências é o mundo real, que o objetivo último da ciência é a verdade, e defenderão que entidades inobserváveis possuem o mesmo status ontológico que as entidades observáveis. Nesta corrente encontramos nomes como Ernan McMullin e Richard Boyd. Instrumentalistas, por outro lado, defenderão que as teorias científicas são ferramentas para identificar relações entre meio e finalidade úteis e confiáveis na experiência, mas sem afirmar a revelação de entidades para além da experiência. Entre os instrumentalistas os principais nomes são Karl Popper e John Dewey.

Quanto à questão da confiabilidade das teorias científicas, trata-se de investigar como e por qual razão devemos confiar em uma teoria científica. Entre as possíveis respostas encontramos a tese do poder de predição de fenômenos, segundo a qual uma teoria é confiável quando ela é eficaz em prever fenômenos que se dispõe a prever. Outra abordagem, intimamente ligada a primeira, é a de que a teoria confiável oferece uma boa explicação para os eventos que ocorrem com regularidade, ou que já ocorreram. O critério pelo qual se poderia dizer que uma teoria explicou bem um evento, assim como o que significa dizer que uma teoria tem poder explicatório, ainda permanece sob discussão.

Entre as questões importantes para a filosofia da ciência encontramos ainda, o reducionismo, que trata não apenas da possibilidade de se reduzir uma ciência a outra, mas também da possibilidade de reduzir todos os campos de estudo a explicações científicas; e a neutralidade politica e social da ciência.


Referências:

CHALMERS, Alan F. A Fabricação da Ciência. São Paulo: Editora Unesp, 1994.

Kuhn, T. S. The Structure of Scientific Revolutions, 2nd. ed. [Univ. of Chicago Pr]. 1970

Kuhn, T. S. A estrutura das revoluções científicas, 7ª ed. São Paulo: Perspectiva, 2003

MORIN, Edgar. O Método - a natureza da natureza. v. 1. 3a. ed. Porto Alegre: Sulina, 2005.

Popper, Karl, Conjectures and Refutations: The Growth of Scientific Knowledge, 1963.

Simpson, G. G.. "Historical science". In Albritton, Jr., C. C. Fabric of geology. Stanford, California: Freeman, Cooper, and Company. 1963.

Tags :

Nenhum comentário:

Postar um comentário