O que estuda a Epistemologia

O que estuda a Epistemologia

A epistemologia é o ramo da filosofia que se ocupa do estudo da natureza do conhecimento, da justificação e da racionalidade da crença e dos sistemas de crenças, em outras palavras, de toda a Teoria do Conhecimento. Usado pela primeira vez pelo filósofo escocês James Frederick Ferrier, o termo epistemologia é composto das palavas "episteme" e "logos". Episteme significa "conhecimento" e Logos significa "palavra", embora seja mais usado no sentido de "estudo" ou "ciência".

O filósofo Jonathan Dancy procurou expandir o conceito, defendendo que a epistemologia trata de "posturas cognitivas", o que incluiria tanto nossas crenças, em sentido amplo, quanto aquilo que pensamos ser conhecimento. Nesta análise, um dos propósitos da epistemologia seria verificar se agimos de modo responsável ou irresponsável ao formar e manter as crenças que temos.
Ainda de acordo com Dancy, a epistemologia não se limita a analisar as crenças que temos, mas busca entender quais crenças deveríamos ter.

O cerne da epistemologia trata de quatro áreas fundamentais:

- Análise filosófica da natureza do conhecimento e como o conhecimento se relaciona com a verdade, crença e justificação.

- Problemas relativos ao Ceticismo, ou questões derivadas deste.

- Critérios para se afirmar que algo é conhecido e justificado.

- O alcance do conhecimento e as fontes da crença justificada.

No desenvolvimento destas quatro áreas fundamentais, três pontos acerca da natureza do conhecimento ocuparam a mente dos filósofos, "saber que", "saber como" e "conhecimento por familiaridade".

A distinção entre o "saber que" e o "saber como" se dá na forma de uma distinção entre conhecimento teórico e conhecimento prático, da atuação envolvendo aquele conhecimento, um exemplo clássico é andar de bicicleta, situação em que o conhecimento teórico de física envolvendo o equilíbrio não é suficiente para determinar que alguém será capaz de efetivamente equilibrar-se sobre a bicicleta e pedalá-la. Este conhecimento do equilíbrio é o "saber que", enquanto a capacidade de efetivamente andar de bicicleta, mesmo sem possuir o conhecimento teórico que explica o equilíbrio, é o que, em epistemologia, chama-se "saber como".

De acordo com o filósofo inglês Bertrand Russell, o que chamamos de "conhecimento por familiaridade" é adquirido por uma interação causal direta, isto significa que existe uma experiência direta, não mediada, que é causa deste conhecimento. Esta explicação tem por base a distinção entre "mediação" e "não mediação". A mediação ocorre quando adquirimos conhecimento, ou o que pensamos ser conhecimento, por meio de uma estratégia, por exemplo, a inferência. Neste caso partimos de algo conhecido e inferimos algo desconhecido. Como quando inferimos que o Inverno será ameno pois o Outono foi ameno. A não mediação ocorre quando não recorremos a conhecimentos anteriores, por exemplo, quando abrimos os olhos pela manhã e imediatamente sabemos que é manhã.

Os dados dos sentidos acerca do objeto observado são tudo com que a pessoa pode se familiarizar – adquirir conhecimento por familiaridade. No que concerne os próprios pensamentos e ideias, provavelmente o ponto de maior discussão acerca da natureza do conhecimento, como outros filósofos contemporâneos, Russell mantém a proposta cartesiana de que uma pessoa pode ter conhecimento de si mesmo, embora não possa ter conhecimento por familiaridade da mente de outras pessoas, uma vez que não interage pelos dados dos sentidos com este objeto interno, a mente da outra pessoa, podemos apenas supor que uma mente existe pela observação do comportamento da pessoa.

Esta questão traz a tona discussões tradicionais da filosofia, como o "cogito ergo sum" – penso logo existo – de Descartes, mas também invoca discussões modernas em filosofia da mente e filosofia da linguagem, envolvendo grandes pensadores do nosso tempo, como Wilfrid Sellars e David Chalmers.


Referências:

A. Goldman, Epistemology and Cognition (Cambridge, Mass., 1986).

BOMBASSARO, Luiz Carlos. As fronteiras da Epistemologia. 3a. ed. Petrópolis: Vozes, 1993.

Ferrier, J. F. Scottish Philosophy the Old and the New. EDINBURGH: SUTHERLAND AND KNOX. LONDON: SIMPKIN, MARSHALL, AND CO. 1856.

Jonathan Dancy. Extraído de Oxford Companion to Philosophy, org. por Ted Honderich (Oxford: Oxford University Press, 1995, pp. 809-812).

Russell, B. Os Problemas da Filosofia. Tradução: Jaimir Conte. Florianópolis. UFSC, 2005.

Tags :

Nenhum comentário:

Postar um comentário